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Portugal: como uma rainha conhecida como louca mudou um país

Você provavelmente já deve ter ouvido falar da D. Maria I, a primeira mulher a ser rainha de Portugal. Infelizmente, a informação que mais ouvimos a respeito dela é a de ter ficado conhecida como “a rainha louca”. Sempre gostei de história e nunca foi uma matéria difícil de estudar, mas hoje percebo como muito do que aprendi na escola era, na verdade, uma das versões de fatos. Somos apresentados a apenas um lado da moeda.

Agora entendo que foi isso que aconteceu ao aprender a história daquela que recebeu a infeliz alcunha de rainha louca.

Nascida em Lisboa em 17 de dezembro de 1734, Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança é frequentemente injustiçada pela forma como a história a descreve.

história

Não sei você, miga, mas eu me lembro bem que tudo que ouvia a respeito dessa monarca era o fato de todos a considerarem louca. 

No entanto, há historiadoras mulheres que têm buscado fazer justiça ao reinado da chamada “rainha louca” e mostrar para o mundo que, na verdade, D. Maria I teve um governo marcado por melhorias incomparáveis para a população portuguesa.

D. Maria I, a primeira rainha de Portugal

Maria I foi a responsável por liderar um império outrora poderoso e que via a sua decadência. Voltando só um pouquinho na história, essa era a época em que surgiam cada vez mais movimentos contrários ao absolutismo na Europa.

Miga, vou ser bem sincera e dizer que meu objetivo não é exatamente o de defender a monarquia ou dizer que Maria era uma santa, mas sim mostrar um pouco da parte desconhecida de sua história e explicar porque a alcunha de “rainha louca” era injusta. A monarca portuguesa teve muitas práticas consideradas progressistas para uma rainha e, além disso, se dedicou às obras sociais e de paz. Foi responsável por soltar muitos presos políticos e por impor restrições à atividade industrial com o intuito de proteger trabalhadores. 

Ela também foi contra a morte do famoso inconfidente Tiradentes, cujo processo de condenação e execução ocorria no Brasil na época de seu reinado.

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Retrato da Rainha Maria I com a Coroa | Fonte: Getty Images

Por que “rainha louca”?

De acordo com historiadores, D. Maria I sofria de doenças mentais como esquizofrenia e depressão. Tinha acessos de tristeza constante em que não saía de seu quarto e não comia. Em um curto período de tempo, ela enfrentou a morte de seu marido, de seu tio, de seu genro, de seu filho e de sua filha e também do Frei Inácio, amigo pessoal e pessoa com a qual ela fazia suas confissões.

Incomodados com uma mulher como detentora do poder absoluto do império português, a oposição, formada pelos republicanos, aproveitou-se da condição de D. Maria I para disseminar a ideia de que ela seria uma rainha louca e, portanto, sem condições de governar.

Ela possuía todos os sintomas do que hoje sabemos ser a depressão. Entretanto, como a doença era desconhecida na época, os tratamentos que lhe foram administrados eram ineficientes para de fato tratar sua doença.

A chamada rainha louca, em seus últimos dias de vida, dormia de três a quatro horas por noite e foi forçada a usar camisa de força e tomar banhos de água gelada para curar o que julgavam ser loucura.

igreja portuguesa em mármore
Basílica da Estrela, onde está enterrada D. Maria I, a chamada rainha louca. Fonte: Istock

O que aprender com essa história?

Miga, como eu disse, a minha intenção aqui não é defender a monarquia, longe de mim. Muito menos quero ser anacrônica e julgar os métodos utilizados para tratar uma doença que, na época, era desconhecida. No entanto, é importante pararmos para pensar por que hoje em dia, quando são já conhecidos todos os fatos acerca da doença de D. Maria I, ela continua a receber a alcunha de rainha louca.

Sabemos que ao longo da história, a ideia de mulheres no poder incomoda e sempre incomodou. Pensa comigo: com qual frequência vemos, hoje em dia, mulheres sendo desmoralizadas e tachadas de inúmeros apelidos? Ou outras que tiveram o seu papel diminuído, como ocorreu muitas vezes com as mulheres negras que, por exemplo, se inseriram na tecnologia e alcançaram feitos notáveis?

O que podemos aprender com a história da chamada rainha louca é que mulheres que se comportam de forma diferente da prescrita pelos ideais da sociedade serão sempre tidas como loucas, rebeldes, insensíveis, histéricas. Isso, no entanto, não deve ser um fator impeditivo para que percebamos o que realmente somos: mulheres f*das! Eu sou e você também é, miga. Mulheres que escrevem suas histórias e que agem de acordo com aquilo em que acreditam.

Por isso, miga, supere o medo de empreender por pensar naquilo que os outros falarão de você. Construa a sua história do seu modo.

Por fim, o que você achou da história de D. Maria I, a chamada rainha louca? Já havia ouvido outra versão sobre o motivo pelo qual a consideravam louca?

Paulistana morando em Lisboa. Criadora de conteúdo que gosta de descomplicar coisas como a tecnologia, as redes sociais e a vida de empreendedora. Feminista, debochada e a personificação da síndrome de Peter Pan.

Comments

  • Milena Marconato
    30 de setembro de 2020

    Chocada com o motivo e com os últimos dias dela!!

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