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Karen Santos: conheça essa Moving Black Girl

A Moving Black Girl é CEO da UX Para Minas Pretas e nos contou sobre como transformou a ‘ausência’ numa comunidade que promove equidade e oportunidades para mulheres negras.

Karen Santos é a Moving Black Girl da semana, por dois motivos:

  1. Ela ressiginifca, através de seu trabalho, o lugar da mulher negra na tecnologia;
  2. A comunidade UX Para Minas Pretas é uma rede de colaboração e oportunidades de apoio e crescimento profissional, exclusiva para mulheres negras.

Isso é importante, pois, no que diz respeito às referências que temos e criamos dentro da tecnologia, as mulheres negras pouco ocupam, bem como não são vistas nestes lugares. Inclusive, você sabia que o condicionador (sim, o de cabelo), foi criado por uma mulher negra?

moving black girl

Milhares de outras mulheres existem e resistem através de seus trabalhos e, sinto que é de suma importância trazê-las, de forma a contribuir com o repertório de nossas refs. Dominação mundial se faz enxergando e exaltando o trabalho de todas, lembra?

Moving Black Girl

Estou em contato com a Karen há pouco mais de um mês, acompanhando ela e o UXMP – UX Para Minas Pretas em todas as plataformas possíveis rs. Uma amiga queridíssima me contou que foi contemplada com o curso de UX Writer da Mergo (ministrado por Cris Luckner que é UX Content Strategist da Nubank) e que essa bolsa veio da UXMP. Fiquei maravilhada, pois, aqui estou falando de um curso caro e extremamente conceituado.

A real é que sim: mulheres negras conseguem, através do UXMP, participar de inúmeros cursos com bolsa 100% escrevendo, como contrapartida, um conteúdo sobre seus novos aprendizados, os quais são postados no Medium e/ou Instagram da comunidade.

O UX (User Experience), já é extremamente difundido na gringa e, gradualmente, vem sendo estudado e difundido em nosso país. Em suma, desenvolver produtos e serviços significa pensar numa experiência fluida e objetiva para o usuário. Se você deseja se aprofundar no assunto, vá para o Medium e siga a UXMP. Te aconselho a começar lendo sobre “A importância de pensar empatia e inclusão dentro de UX“.

Sem mais delongas… Conheça Karen Santos

“Antes de trabalhar com UX, eu já fiz um pouco de tudo. Depois do divórcio dos meus pais, fui morar com a minha mãe e não tive muita opção, se não trabalhar para ter as coisas que sempre desejei (eu queria muita coisa rsrs). Minha mãe, sendo solo, trabalhava o dia todo e ainda assim era difícil de nos mantermos financeiramente durante o mês ” relata a Moving Black Girl.

“Sendo muito independente, iniciei a mão na massa cedo, sendo babá, professora de dança para crianças, monitora de informática, secretária e operadora de telemarketing em 3 empresas. Em 2013 comecei a faculdade de Design Gráfico e me formei. Em 2015 entrei em uma agência de marketing promocional para, então, trabalhar na área”

Oportunidades

“Na minha última semana de faculdade, fiz o processo e passei e lá fiquei por quase 4 anos. Foi um bom período para aprendizado, atuei com o nicho de crianças novamente e isso me possibilitou conhecer grandes clientes, como Disney, Nickelodeon, Cartoon Network, Turma da Mônica, entre outros” conta.

Miga, você está comendo bola se pensa que a sua experiência no Telemarketing ou como VM de Fast Fashion não contribuem em nada na sua Jornada. Mude esse conceito! No Medium, a Moving Black Girl tem um texto muito legal chamado “Como ter sido operadora de telemarketing me ajuda em testes com usuários em UX na pandemia“. Vale muito a pena!

Sempre fui empreendedora e já fali 3 vezes


“Já empreendi algumas vezes e falhei em todas elas. A Kaps Lock, uma agência com foco em design; Sunshine, uma loja de brindes; Neegrow, uma empresa para cuidar do marketing de empresas com nicho étnico racial. Sinto que foram boas experiências, contudo, eu não sabia exatamente o que queria. Meu desejo era ter uma marca/empresa que entregasse um produto ou serviço personalizado para as pessoas, mas faltava algo… Ainda sim, o não dar certo, me preparou para outros momentos” declara.

“Ao sair da agência, fiquei como freela durante 6 meses, atuando como Diretora de Arte do Canal Preto e fazendo consultoria de diversidade e inclusão para a escola de UX Mergo

Migrando para UX

“Em 2018, já não tão satisfeita com meu trabalho na agência, meu desejo era sair da zona de conforto, ir para além do Design Gráfico e atuar diretamente no impacto das pessoas” conta Karen.

“Lembro de dizer a frase para um amigo na época:

Eu quero ajudar pessoas, através do meu trabalho

“Comecei a ouvir falar de UX, e como boa curiosa que sou, fui estudar sobre, participar de eventos, palestras e cursos. E, então, em 2019 com um dos freelas que eu estava fazendo, consegui a oportunidade de fazer os cursos da escola Mergo, de Janeiro à Julho, que era o tempo da minha atuação” complementa.

Quando o “sim” chegou

“Esses cursos foram essenciais para a minha base teórica e preparação para a migração de carreira. Quando estava próximo dos 6 meses de freela, comecei a me candidatar para diversas empresas com foco em UX. Se nada desse certo, eu voltaria para o Design Gráfico, caso contrário, eu trabalharia em alguma das 8 empresas para as quais fiz processo seletivo.” relata.

“Eu levei muitos não’s, porém um ‘sim’ em uma fintech chamada PicPay, onde atuei como Product Designer durante 1 ano, com foco no mercado financeiro e digital. Hoje sou Product Designer no QuintoAndar.

Qual a missão da UX para Minas Pretas?

Quando ouvi o termo Dororidade pela Vilma Piedade, mulher negra, pós-graduada em literatura brasileira e português eu falei: é exatamente daí que vem a minha missão!

Dororidade

“A dororidade é a dor que só as mulheres negras reconhecem e eu, como muitas outras, reconheci também ao migrar para a área de UX. Eu não me senti representada. O número de pessoas negras, em especial mulheres negras, era (e ainda é) extremamente baixo”.

“Eu não conseguia entender como uma área que tratava da experiência das pessoas, poderia ser tão pouco diversa em relação à construção dos produtos e soluções. A pergunta que começou a me perseguir desde então foi: Se as pessoas negras não estão nas equipes, nas empresas, e pensando nessas experiências, quem está?”

“A partir dessa dor, de não me enxergar nos lugares, cursos, eventos, empresas, criei a iniciativa UX para Minas Pretas, e hoje, ao lado de mulheres incríveis como Aline Santos, Patrícia Gonçalves, Melissa Fonseca, Luciana Miranda, Sueni Jardim, Germana Rosa, Maiara Marinho, Camila Rodrigues, entre outras que nos apoiam na linha de frente, formamos um time, de (e para) mulheres negras. Assim, promovemos a equidade de mulheres negras no mercado de tecnologia com foco em UX, através de ações de formação, empoderamento, compartilhamento de conhecimento e articulação em rede” completa.

Leitura complementar: UX para Minas Pretas: uma iniciativa para formar profissionais do futuro

Estamos só começando

“Hoje, temos 1 ano e meio de vida e o nosso trabalho está apenas começando, e vou te dizer, não é nada fácil. Existe um abismo social entre nossa sociedade que nos atinge em diversas esferas e recortes. Hoje, por meio de conexões, autocuidado, ambiente seguro, de afeto, acolhimento, escuta e sociabilidade, buscamos minimizar esses danos para as mulheres negras da nossa comunidade.”

“É no sentido coletivo, na cria de laços, construção de identidade que nos fortalecemos.

Tendo a dor identificada, mapeada e direcionada, outras como eu automaticamente se conectaram, pois, na dificuldade a gente se entende bem e não tem por que sentirmos isso sozinhas.”

Os pilares da UXMP

  1. Capacitação: bolsas de estudo através de parceiros, workshops criados pelo time, mentorias técnicas, compartilhamento de conhecimento entre a comunidade em grupos privados;
  2. Mulheres negras: apoio emocional, encontros e conversas com psicólogos, mentorias focadas em pontos específicos da mulher negra, articulação da rede;
  3. Carreira: mentorias, vagas direcionadas para mulheres negras, workshops, eventos e materiais de preparação para processos seletivos e acompanhamento das candidatas ou contratadas de forma macro.

4 dicas para uma Moving Black Girl que deseja trabalhar com UX

Se liga nas dicas compartilhadas pela moving Black Girl:

  1. Vivência: toda a sua vivência é importante e servirá para a sua atuação em UX, seja você designer, jornalista, arquiteta, caixa de supermercado, operadora de telemarketing, entre outros. Para pensar na experiência das pessoas, os aprendizados que você teve em sua carreira anterior, será de grande ajuda;
  2. Não faça isso sozinha: procure uma comunidade que você possa se encaixar e interaja com as pessoas que também querem migrar ou já estão na área. Se achar válido, peça para alguém ser a sua mentora. Ps: se você é uma mulher negra, parda, indígena ou mulher negra trans, venha para os nossos grupos na UX para Minas Pretas 😂
  3. Não tenha medo: dá um frio na barriga, parece (e muitas vezes é) difícil mesmo largar uma carreira e ir para outra, mas acredite… Vale a pena, se é realmente o que você deseja;
  4. Estude, estude, estude muito: existem muitos conteúdos sobre UX e eventos gratuitos na Internet. Aproveite isso!

UX em seu negócio

  • As pessoas buscam cada vez mais boas experiências, tente entender qual é o seu nicho e o que você tem feito para que ele enxergue o valor do seu produto, não pela beleza ou preço, mas pelo que ele resolve na vida das pessoas;
  • UX está em todos os lugares. Você pode pensar na experiência das pessoas, através do texto (UX Writing), ou através de produtos mais acessíveis (UX com foco em acessibilidade), ou você pode fazer pesquisas para entender mais a fundo o seu público (UX Research), e amarrar tudo isso, para gerar um produto e serviço mais completo, com foco real nas pessoas;
  • Empreender é pensar na experiência dos seus clientes, mas pense também na sua experiência enquanto empreendedora. Como tem sido esse processo? Você tem claro qual o seu propósito e onde deseja chegar? Se estamos falando de experiência do usuário, qual experiência você tem dado, a si mesma, como usuária da sua vida empreendedora?

Anotou? Essa Moving Black Girl e todas as outras que compõem a UX para Minas Pretas são incríveis. Siga-as, contrate-as e recomendem seus trabalhos e difunda esse conhecimento em sua rede.

Deixo aqui meu MUITO OBRIGADA a Karen por ceder essa entrevista com tanto carinho e atenção. Eu estou incorporando o UX Writing no meu trabalho e fiz o meu primeiro curso nesta área por meio de uma bolsa de estudos da UXMP. Recomendo forte essa comunidade! Espalhem por aí ✨

E aí, miga, pronta para criar referências de Moving Black Girls f*das?

Assim, o nosso compromisso é difundir a trajetória de mulheres negras que estão transformando o business e conquistando a dominação mundial. Vamos juntas? 

Trazendo algumas reflexões para você repensar o empreendedorismo negro e suas práticas antirracistas. Mas, fica tranquila, miga... Eu também vou te ajudar nessa missão!

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